Curitiba e seus encantos
A capital do Paraná é perfeitinha, saborosa e sabe como impressionar seus visitantes. A viagem fica ainda mais gostosa com um passeio de trem pela Serra Paranaense
Sempre tive curiosidade em conhecer Curitiba pelo simples fato de ela ser, constantemente, considerada a cidade modelo do país. Afinal de contas, qual a real graça de Curitiba? Apenas os seus belos pontos de ônibus? O frio? Fui lá conferir o “algo” a mais da capital paranaense e, de quebra, aproveitei para fazer o delicioso trajeto de trem que vai até Morretes.
Um passeio por Curitiba começa, claro, por suas duas grandes atrações: Jardim Botânico e a Ópera de Arame. O Jardim Botânico foi inspirado nos belos jardins franceses, seguindo à risca os conceitos de simetria, harmonia entre as cores e sutileza dos desenhos. Seu destaque é a estufa, baseada em um palácio de cristal de Londres do século 19, construída com ferro e vidro. Com três abóbodas, o espaço reúne diferentes espécies de plantas e oferece, no segundo andar, uma vista única para o jardim.
Beleza natural também emoldura a Ópera de Arame. Em meio à mata nativa, no local que já foi uma pedreira, ergue-se um palco de 400 m². Com capacidade para 2.400 pessoas, a ópera é envolvida por um lago e uma cascata de 10 metros. O teto em formato de cúpula garante a perfeição da acústica.
Para chegar até a área das apresentações, caminha- se por uma passarela cujo chão é vazado e repleto de pequenos vãos – o que acaba se tornando armadilha para quem está de salto alto!
Mudando um pouco de ares e trocando o verde pelo concreto, a arquitetura singular de Oscar Niemeyer, no museu que leva o seu nome, vale muitos minutos de contemplação. O “grande olho” é considerado o museu com maior área expositiva da América Latina – são mais de 17 mil metros quadrados. O acervo engloba artes visuais, arquitetura e urbanismo, com exposições itinerantes e fixas. Possui ainda um auditório para 400 lugares e um aconchegante café. O roteiro básico por Curitiba também pede uma esticada até a Rua 24 horas, no centro. Revitalizada, voltou a funcionar há dois anos. Interligando a Rua Visconde de Nacar e a Visconde do Rio Branco, ela foi a primeira via coberta do Brasil. Sem grandes novidades, hoje o espaço reúne 15 estabelecimentos, entre bares, cafés e lojinhas. Se a viagem à cidade calhar de cair em um domingo, programe-se para ir à feirinha ao ar livre que acontece no Largo da Ordem. Prepare-se para andar, pois quando parece que acabou, descobre-se que está apenas começando e que ainda existem muitas barraquinhas com produtos locais e artesanato para xeretar. O Mercado Municipal de Curitiba também merece uma visita. Por lá, não são apenas os boxes de hortaliças e frutas que chamam a atenção. Há boas opções de restaurantes e até lojas de roupas.
Mas comer bem na cidade tem endereço certo. O bairro mais gourmet da região é o Santa Felicidade. Antiga colônia de imigrantes italianos, o distrito ainda guarda muita história e preservou a arquitetura do período. Esse é o caso da família Durigan, que chegou ao Brasil em 1845 e trouxe na bagagem todo o seu conhecimento sobre vinhos. Eles fundaram a Adega Durigan, que abre aos visitantes para degustação com uma seleção de Chardonnay, Carbenet e Merlot que custa menos de R$ 20.
Santa Felicidade concentra também um bom número de cantinas italianas. Além do Madalosso, que faz sucesso há 40 anos em função do seu tamanho (tem capacidade para 4 mil pessoas), existem outros pontos, entre eles o Veneza, aberto em um castelo e que tem um buffet de massas completo, e a Pizzaria Carolla, que reservas alguns achados como a pizza de berinjela grelhada.
Já o bairro do Batel é point para encontros e diversão com um bom número de bares e restaurantes. Entre eles, é possível se deliciar curtindo uma música ao vivo no Zapata Mexican Bar, que, como o nome já diz, serve comida mexicana.
Para tornar mais fácil a vida do visitante que deseja conhecer o que Curitiba tem de mais bacana, o turismo da cidade disponibiliza o Leva & Traz (levaetrazgratis.com.br), um meio de condução alternativo aos ônibus e táxis. A van executiva com ar-condicionado e motorista presta serviço de segunda a sábado, das 19h30 às 23h30, levando turistas que estão hospedados nos hotéis credenciados. O serviço vai até bares, restaurantes, casas de shows, teatros, shoppings e os principais pontos turísticos. Mais um motivo que deixa a visita por essa cidade ainda melhor!
Pelos trilhos na Serra
Um passeio delicioso para fazer na região é conhecer a Serra Paranaense de trem, viajando de Curitiba até Morretes. Com 125 anos de história, a ferrovia, com 110 quilômetros, 13 túneis e 30 pontes, liga a capital do Paraná até a histórica Paranaguá. Construída no século 19 por engenheiros portugueses e brasileiros, a rota é atualmente administrada pela Serra Verde Express.
Os vagões têm decoração de época, com móveis restaurados e papéis de parede remetendo a Foz do Iguaçu. Das janelas, vê-se planícies, montanhas e ruínas. A imponência da queda d’água Véu de Noiva e o Pico do Diabo são pontos altos da viagem.
Ao passar pelo Santuário do Cadeado, é permitido descer para admirar as Montanhas do Marumbi, a primeira montanha no Brasil que foi escalada. O seu cume, o Olimpo, tem 1.539 metros de altura.
Mas o momento mais esperado da viagem ainda está por vir: a passagem e parada pelo Viaduto Carvalho, a 485 metros do nível do mar, é o grand finale. Nessa hora, os passageiros encostam a cabeça no vidro e olham para baixo – a sensação é de estar em um abismo, como se o trem estivesse flutuando.
Antonina, uma descoberta
Três horas depois, o trem chega em Morretes, a calorosa cidade que nos dias mais quentes de verão pode atingir os 43ºC. Fundada em 1721, a impressão que fica é que ela parou no tempo, com seus casarões bem conservados e as ruas de pedra.
Morretes também é reconhecida pela gastronomia, em especial, pelo prato Barreado. Aos finais de semana, muitas famílias de Curitiba vão à cidade apenas para saboreá-lo. De origem açoriana, a receita é uma espécie de ensopado de carne, mas com um cozimento longo, de aproximadamente dez horas. O prato é acompanhado por arroz, farinha de mandioca e banana. Faz sucesso por lá também a cachaça, gengibre e guloseimas com banana que são feitos na região.
O barreado também faz sucesso na cidadezinha ao lado, Antonina. Colorida e musical, ela já foi até cenário de novela. Tem coreto, igreja e ruínas que contam sua importância para a história do Brasil. A prefeitura, por exemplo, foi uma antiga hospedaria que teve como hóspede Dom Pedro I.
A música é outra paixão dos moradores – que, de tão apegados, fizeram questão de registrar suas preferências na porta de suas casas. Cada família participante da iniciativa “Amigos da Música” coloca uma plaquinha pendurada com o nome da canção que mais gosta. Durante o festival de inverno que acontece na cidade, o grupo de seresta vai até as casas e canta as músicas sinalizadas.
O dia chega ao fim e é hora de voltar. O retorno não é feito de trem, mas de van, que percorre a longa e estreita Estrada da Graciosa. No final, uma última parada para ver a Baía de Paranaguá e se despedir, mesmo a distância, de Morretes e Antonina.